O LUGAR DAS MULHERES NA INDÚSTRIA TECNOLÓGICA

O ciberfeminismo evidencia que as mulheres se apropriaram da internet e das mídias digitais para promoverem sua causa, que é a igualdade entre os gêneros. Essa luta ainda se faz necessária pois as inequalidades de gênero ainda existe em muitas esferas da sociedade, e uma delas é justamente a indústria da tecnologia.

Uma pesquisa realizada pelo jornal britânico “The Guardian” apontou que, no Reino Unido, homens são 65% das pessoas que trabalham nesta indústria, mulheres, 33% (2% se encaixam na faixa “outros”. Entretanto, nao há nenhuma mulher nos cargos mais importantes e representativos, existe uma diferença muito grande entre quais cargos eles ocupam.

As mulheres reclamaram de serem sempre a última opção para possíveis promoções, e consequentemente, ficarem estagnadas em uma mesma posição por anos a fio. Muitas inclusive relataram que foram incentivadas a diminuírem suas ambições na área, pois afinal de contas, não seria fácil.

75% das pessoas que foram entrevistadas (de um universo de 600 pessoas), entre homens e mulheres, concordaram esta se tratar de uma área sexista e que as mulheres são menosprezadas, subvalorizadas, e tem salários menores comparativamente ao dos homens ocupando mesmo cargos. Os chefes, em contrapartida, disseram que as mulheres são menos competentes e que isso justifica a diferença.

Dizem que as mulheres não estão presentes nas áreas das ciência tecnológicas porque elas não tem aptidão. Contudo, o que acontece é que elas não são incentivadas a estudar e a desenvolver um interesse na área (das ciências, tecnologias, matemática e afins) o que apenas contribui para o domínio masculino.

Dois dias atrás, uma aluna americana de 16 anos teve a oportunidade de perguntar a Bill Gates, durante uma vídeo conferência realizada em sua escola, a “Carver High School for Engineering and Science”: “Na sua opinião, qual a estratégia mais eficaz para as escolas de ensino médio adotarem, a fim de incentivar que mais mulheres escolham a área das ciências tecnológicas? ”

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No Vale do Silício, um dos maiores centros mundiais de criação e inovação tecnológica e científica,  algumas iniciativas como a “Girls Who Code” e “Rails Girls” foram criadas para minimizar essas diferenças, aproximando mulheres e tecnologias. Entretanto, representantes das duas ONG’s relataram estarem infelizes com os resultados dos números de mulheres engajadas e com relação a permanência. E que, apesar de promoverem campanhas, não conseguem atrair um número desejável de mulheres.

Acredita-se que o problema comece desde o jardim de infância, onde meninos e meninas são tratados de formas diferentes e são estimulados a fazerem atividades distintas. Dessa forma, é possível que essas diferenças de gênero na esfera tecnológica seja minimizada. Espera-se que as novas gerações tenham estas diferenças minimizadas entretanto, para isso acontecer, primeiro é necessário uma reformulação do sistema educacional infantil, com o desenvolvimento de um método que possibilite casa um desenvolver uma área de interesse, porém sem estar relacionado com o seu gênero.

Sob controle! (ou não)

Tornaram-se cada vez mais comuns as discussões em torno da privacidade e segurança nas Redes Sociais digitais (Facebook, Twitter, Skype, etc.), os modelos de redes comumente utilizados incitam a exposição generalizada, na qual, o indivíduo passa a abdicar da detenção única de muitos dos seus dados pessoais, os tornando públicos e à disposição das empresas e bancos de dados na internet, dando margem a novas maneiras de exploração de tais informações depositadas, por vezes, sem autorização prévia e sem conhecimento do usuário.

Em média 316.455 pessoas se cadastram, por dia, no Facebook, desde sua criação em 4 de fevereiro de 2004, mas a maioria delas não se preocupam em fornecer seus dados pessoais na ficha de cadastro, que são compartilhados publicamente sem a menor importância

A rede social é um sinônimo de exposição e visibilidade para muitos, mas também deve-se considerar que é uma ferramenta útil para conhecer pessoas, expandir horizontes e também manter contatos, principalmente, profissionais, dentre outras finalidades.

No entanto, em oposição a este modo de utilização das redes, existem aqueles que optam pelo uso das ‘Redes Sociais Federadas’ nas quais os usuários são, de fato, donos dos seus próprios dados. As informações pessoais, permanecem armazenadas no computador do usuário e funcionam mais ou menos como os torrents.

O ativista de tecnologias livres e diretor das empresas Software Público Com Br e KyaHosting, Anahuac de Paula Gil, afirma que as redes sociais federadas são a “única solução realmente eficaz ao monitoramento de dados”.

Existem alternativas similares as plataformas mais populares atualmente como, por exemplo, a ‘Diáspora’ que poderia substituir o Facebook, o ‘Jitsi’ para o Skype, o ‘ pump.io’ para o twitter e o ‘ownCloud’ para o Dropbox.

O uso de tais redes, nas quais os usuários tem maior controle sobre seus dados poderia, inclusive, ajudar no controle da informação a respeito de manifestações sociais organizadas através da rede – o ciberativismo. Se um número considerável de pessoas fizessem uso desde sistema, a disseminação de ideias e de movimentos se daria de maneira muito mais livre e possivelmente ‘segura’, sem passar pela vigilância de quem detêm o controle do banco de dados e de quem mais tenha interesses contra a manifestação.

Contudo, essa ideia de privacidade parece utópica quando pensamos no modelo das redes mais utilizadas e no perfil da maioria de seus usuários, pois ainda que uma minoria consciente do perigo de tanta exposição aleatória resolva migrar para redes federadas, pode não fazer sentido ir para um ambiente no qual o seus ‘amigos’ não estarão presentes. Sendo assim, como diz Anauhac : “Seria necessária a tomada de consciência da população usuária da Internet, assim como o povo tem buscado o direito a democracia e liberdade no oriente médio! Neste caso seria a verdadeira primavera cibernética, pois todos teriam que estar embuídos de civilidade para lutar pelo direito a privacidade, direitos humanos digitais, neutralidade da rede e democratização do conhecimento”.

Saiba um pouco mais sobre essas redes no Brasil, pelo colunista de cultura digital Vinícius Pereira.

Cidades inteligentes para cidadãos inteligentes

A ideia distópica de algumas pessoas, até mesmo de alguns teóricos da comunicação quando da expansão do uso da internet, era a de sujeitos enclausurados entre quatro paredes, sentados diante do computador, navegando em um universo alternativo enquanto o mundo real em nada dialogaria com o que acontecia na tela do pc. Como pensar em dissolução entre real e virtual, quando o anonimato era a tônica das interações em rede, interação que muitas vezes não passava de bate-papo entre estranhos? Nesse cenário também não caberia pensar em cidades planejadas para que as pessoas se conectassem às redes e trocassem informações a partir das ruas, praças, parques, etc. Hoje, estamos cada vez mais distantes da ideia apocalíptica de clausura e isolamento que inicialmente estava associada às interações via internet.

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A dinâmica das “smarties cities”, cidades com tecnologias planejadas para otimizar a vida do cidadão e da coletividade, fala diretamente ao princípio de horizontalidade proposto pelo uso da internet e com o uso desse meio como ferramenta social por ativistas de diversas vertentes. Com pontos de conexão e propagação de informações pelas cidades, torna-se possível, por exemplo, através de aplicativos móveis, saber o que acontece no trânsito em tempo real, o que para cidadãos politicamente engajados pode servir como levantamento de áreas problemáticas e colaborar com a proposição de soluções junto aos órgãos responsáveis. Isso vai depender de quem usa a tecnologia, que por si só não fará as melhorias desejadas, reiterando o que já vem sendo dito nesse blog sobre como a internet e ferramentas da tecnologia da informação mudam a dinâmica dos ativismos, mas que as ações dependem do interesse primário de quem as usa.  connected1

Para Carlo Ratti, diretor do City Lab do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), as smart cities ou cidades inteligentes devem ser pensadas por e para cidadãos comprometidos com o bem estar e temas que afetam a coletividade, os “smart citizens”, que utilizam as tecnologias disponíveis nas cidades para acompanhar, analisar, propor melhorias.  (Nesta matéria, Ratti lista mudanças que considera cruciais para a cidadania no conceito de cidades inteligentes, em como esse formato pode favorecer o levantamento de pautas coletivas e contribuir para participação efetiva dos cidadãos na administração pública.)

Assange e a liberdade na rede

O vídeo acima, faz parte de uma uma entrevista realizada pelo jornalista Jamil Chade, do jornal Estado de São Paulo, em fevereiro de 2013. Nela, o criador do WikiLeaks, Julian Assange, afirma que sociedade, indivíduos, Estado e internet estão imbricados, não se separam: “A internet é hoje o alicerce da sociedade e conecta os Estados além das fronteiras. É o sistema nervoso central da sociedade. Ela não apenas mudou a relação entre os que tem poder e os que não tem, dando conhecimento àqueles que não tinham conhecimento. Mas também fez todo o sistema funcionar de forma mais inteligente. Agindo contrário a essa força está a vigilância em massa criada por parte do estado”, afirma.

Segundo Assange, a onipresença da rede é o que possibilita tal vigilância. Os sistemas de telefone estão na internet, assim como os bancos e as transações são feitas pela internet. Os indivíduos se comunicam por meio dela, expõem suas vidas, seus pensamentos, sua posição geográfica. “Enfim, tudo é exposto na internet. Isso significa que grupos envolvidos na vigilância em massa realizam uma apropriação enorme de conhecimento. Esse é o maior roubo da história”, diz o ativista.

E é também contra isso que Assange se dedica. Em 2011, o WikiLeaks  publicou o Spy Files, uma série de documentos com informações sobre um “sistemas de interceptação de massa”, em que várias empresas de inteligência vendiam a governos tecnologia para vigilância de pessoas. Dá uma olhada no mapa que mostra as indústrias ligadas à vigilância.

Com argumentos como a melhoria no fornecimento de serviços ou maior segurança, a coleta de informações vem sendo justificada, mesmo que para tal, seja necessário pôr de lado o direito à privacidade. Em seu artigo “Vigilância tecnológica, bancos de dados, Internet e privacidade”, o advogado Marcel Leonardi explana sobre o assunto:

O uso das informações é justificado por organizações privadas como forma de melhorar seu processo interno de tomada de decisões em todos os aspectos, da contratação de empregados à concessão de crédito. Os tomadores de decisões utilizam-se de dados pessoais para justificar suas posições perante sua empresa ou seus superiores. De outra parte, quando uma empresa de comércio eletrônico mantém um registro dos produtos adquiridos pelo consumidor, justifica sua conduta como sendo verdadeira prestação de um serviço, informando-o sobre outros produtos que podem ser de seu interesse, ainda que o consumidor não o tenha solicitado e que tal serviço, “por coincidência”, ajude a empresa a vender mais produtos.

Tanto as empresas quanto os governos justificam a coleta de informações como fator preponderante para o fornecimento de melhores serviços – combate ao crime mais eficiente, governo mais organizado, serviços mais rápidos, boas relações de consumo, menores custos e assim sucessivamente. Não se nega que, em linha de princípio, tudo isto seja benéfico. Ocorre que a privacidade é geralmente colocada de lado em tais situações, sob o argumento de que não há nada de maléfico ou danoso na coleta e troca de informações, e que seus benefícios justificam sua própria existência.

Para saber mais sobre o assunto, indicamos a leitura do artigo WikiLeaks: quem lucra com a espionagem digital, de Bruno Fonseca, Jessica Mota, Luiza Bodenmüller e Natalia Viana.

Atualmente vivendo na embaixada do Equador em Londres, Assange recebeu asilo político em 2012, após a Suprema Corte do Reino Unido confirmar sua extradição à Suécia, onde é acusado por crimes sexuais. Assange havia sido preso em 2010, após negociar sua entrega com a polícia britânica.

Fundador do site WikiLeaks, Julian Paul Assange é jornalista, nascido na Austrália, no ano de 1971. Em seu livro Cypherpunks – Freedom and the Future of the Internet*, publicado no Brasil pela Editora Boitempo, sua pequena biografia o apresenta como: editor-chefe do WikiLeaks, ganhador de prêmios como o Amnesty International New Media Award em 2009 e o Sydney Peace Foundation Gold Medal, o Walkley Award for Journalism e o Martha Gellhorn Prize em 2011, entre outros. Criador de inúmeros projetos de software alinhados com a filosofia do movimento Cypherpunk, inclusive o sistema de criptografia rubberhose e o código original para o WikiLeaks.

O WikiLeaks é uma organização sem fins lucrativos, que tem por objetivo a divulgação na internet de conteúdos importantes e sigilosos. Informações referentes a temas de diplomacia, espionagem e inteligência, corrupção, finanças, censura e tecnologia de filtragem de internet, histórias de guerras, assassinatos, tortura e detenção, sobre governos, comércio e transparência corporativa, supressão da liberdade de expressão e liberdade de imprensa, etc.

Fundado oficialmente em 2007, o WikiLeaks ainda desenvolve tecnologias para dar suporte às suas atividades, disponibilizando às suas fontes anônimas, meios de alta segurança, fortificados por tecnologias de ponta de informação criptográfica, para que sejam enviados os materiais. Estes, quando recebidos, são analisados pelos jornalistas da organização, que verificam e escrevem a notícia sobre os conteúdos em questão, descrevendo sua importância para a sociedade.

Assange entre em uma guerra pela liberdade na rede, pela transparência que contribui para a redução da corrupção e o fortalecimento de democracias. A WikiLeaks está baseada nos princípio da informação livre, da liberdade de expressão e de publicação de mídia. “O grande presidente americano Thomas Jefferson observou certa vez que o preço da liberdade é a eterna vigilância. Acreditamos que a mídia jornalística tem um papel fundamental nesta vigilância, afirmam em seu site.

Da série “O Mundo Amanhã“, uma parceria do WikiLeaks com a Agência Pública – Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo, separamos a sétima entrevista feita pelo Julian Assange, com ativistas dos movimentos Occupy de Londres e Nova York, sobre as origens, as propostas e os resultados das manifestações.

Dá uma olhada:

Há aqui talvez uma contradição. Ela reside na potencial liberdade que nos é dada pela Web 2.0. O tempo todo falamos desse espaço descentralizado, democrático. Não é uma mentira, estamos livres, ao menos mais livres. Mas estamos sendo monitorados a todo tempo. Essa nossa liberdade é “zelada”.

* Click aqui e leia a edição em português do livro Cypherpunks: liberdade e o futuro da internet.

Discussões sobre Ciberativismo

O ativismo, com seus protestos, manifestações e reivindicações, foi fundamental para que profundas mudanças acontecessem na sociedade ao longo da história. O sistema político em que estamos, e até mesmo a roupa que usamos são frutos de conquistas ativistas.  Diversas revoluções organizadas aconteceram no Brasil com motivações sociais e políticas antes mesmo do país tornar-se uma república. Só para citar alguns exemplos, em 1789 houve a Inconfidência Mineira (que contou com Tiradentes como ilustre representante), que reivindicava entre outras coisas a diminuição dos impostos; movimentos emancipacionistas também marcaram o período colonial, almejando a independência de Portugal, como a Revolução Pernambucana em 1817. Já no século XX, a Marcha da Família em 1964 levou um número extraordinário de pessoas para as ruas, cerca de um milhão, contando com a participação de diversificados setores da sociedade, como a Igreja, empresários e políticos, todos contra a “ameaça comunista”.

Grandes movimentos como este não se restringiram ao Brasil, obviamente.  Alguns dos mais famosos a nível mundial são a Marcha sobre Washington, nos EUA, na qual Nelson Mandela proferiu sua famosa frase “I have a dream”,  sonhando com a igualdade racial no seu país; protestos no muro de Berlim, que resultaram na derrubada deste, e também os protestos femininos nos anos 60 e 70 ao redor do mundo, provendo uma maior igualdade entre os gêneros.

Clique para conferir 10 protestos que marcaram a história

Marcha sobre Washington, em 1963

Este preâmbulo mostra a força que movimentos sociais e políticos usufruíam ao longo dos séculos. Não obstante, existe um divisor de águas na história dos movimentos sociais e suas formas organizacionais: a eclosão da Internet.  Por tratar-se de uma mudança tão profunda e marcante, criou-se inclusive um novo termo para tal: Ciberativismo.  Apenas para reiterar, o Ciberativismo é uma ramificação do próprio ativismo, como um deslocamento espacial, representa um ganho de mais um esfera pública para ampliar seus alcances e que trouxe muitas inovações e novas possibilidades de luta.

A internet e as novas mídias digitais  possibilitaram diversos ganhos para os movimentos sociais, políticos e ambientais, entre outros. Por se tratar de um espaço comunicacional democrático e horizontal, e construído de forma colaborativa, permite maior difusão de informação do que os tradicionais veículos de massa. Claro que estes ainda são fundamentais para a difusão de informação, e suas páginas onlines são excelentes canais de divulgação, porém o que acontece é que atualmente todos com acesso à Internet podem criar e divulgar seus próprios conteúdos, ou seja, existe uma maior facilidade para que pequenas causas, ou as que não interessem à grande imprensa, entrem em pauta. Além disso, muitas vantagens são evidentes, como a maior rapidez na transmissão de informações, também implicando em menores custos, a difusão a nível global, já que há um rompimento de barreiras espaciais, que beneficia a busca e aderência de simpatizantes e novos adeptos às mais diversas e distantes causas, etc.

É interessante poder ver e até mesmo conhecer as mais diversas e longínquas causas e grupos organizados na Internet, simpatizar-se e poder colaborar com elas. As minorias, que não encontravam outro suporte, agora podem reunir-se e fortalecer-se.  Algumas páginas modestas no Facebook, como a da ATEIA (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos), com 6 mil seguidores, agora pode divulgar seus projetos e reinvindicações para os interessados, assim como a página da Associaçao Baiana dos Protetores de Animais, que inclusive recebe doações por meia da web.

Corroborando com o que foi dito acima, Sérgio Amadeu, conhecido defensor do Software Livre e da inclusão digital, faz uma definição sobre o termo Ciberativsmo:

Por ciberativismo podemos denominar um conjunto de práticas em defesa de causas
políticas, socioambientais, sociotecnológicas e culturais, realizadas na redes cibernéticas , principalmente na Internet. O ciberativismo se confunde com a própria expansão da rede mundial de computadores. Ele influenciou decisivamente grande parte da dinâmica e das definições sobre os principais protocolos de comunicação utilizados na conformação da Internet. É possível posicionar os diversos grupos e atividades do ciberativismo situados mais à esquerda ou mais à direita.

Muitos nomes derivados do Cyberativismo já podem ser vistos: Hacktivismo (ganhou muita força com o advento do movimento Anonymous em 2010, representa o ato de invadir e hackear computadores alheios com uma justificativa social e política), Slacktivismo (indica pouco envolvimento, normalmente assinatura de petições e divulgação das páginas e textos), Ativismo de Hashtag (uso de hashtags para propagar causas/informações), todos estes no ambiente digital. De acordo com isto, o autor Sandor Vegh afirmou que o Ciberativismo não se dá de uma única maneira, e que existem diversas formas nas quais ele pode manifestar-se, inclusive desde petições online, criação de sites denúncia sobre uma determinada causa, organização e mobilização de protestos e atos que aconteçam fora da rede, flashmobs, hackerativismo e o uso de games com uma função política e social.

Apesar de todos estas considerações, há autores que sustentam um contraponto em relação à importância da Internet para os movimentos sociais atuais. O crítico da Internet oriundo da Bielorrússia, Evgeny Morozov, autor do livro “The Net Delusion”, defende que os governos conhecem o potencial da Internet e que aprenderam a usá-lo a seu favor, como promoção pessoal e propaganda política. Ou seja, governos como da China e do Irã não precisam mais censurar a Internet, agora é muito mais favorável ter um exército de pessoas escrevendo a seu favor, e esses dois países estão fazendo altos investimentos nesta área. Os próprios governos usam a Internet para propagar boatos e enfraquecer os movimentos de resistência. Morozov também escreve que esse outro lado da internet não é divulgado, quando “quando a rede é utilizada para fortalecer a propaganda, censurar e vigiar a população em governos autoritários”. Para ele, ao se enxergar a Internet como a única solução política para os problemas que assolam o mundo, estamos dando mais condição para que ela seja censurada nos países menos democráticos. Afinal de contas, ela não é simplesmente uma ferramenta política e politizante, o acesso à rede não implica diretamente em seres mais politizados. Ele também diz que o ativismo online resulta em mais barulho do que em resultados, e que normalmente não possue uma boa estruturação de ideia e de ações, apenas de mobilização de pessoas. São movimentos com baixa taxa de comprometimento e uma alta taxa de participantes. . Para ele também, muitas pessoas parecem estar engajadas nas redes para nutrir uma imagem de envolvimento social, quando na verdade só querem que seus amigos nas redes sociais o vejam como tal.

Para uma visão mais crítica do assunto, recomendamos a leitura do texto do autor na Folha de São Paulo

Mindfulness: Uma tendência que requer atençao

O autor não ignora a importância que a Internet pode ter politicamente, ele enxerga todas as suas potencialidades, mas ele reitera o quanto o seu mau uso pode tornar não apenas ineficazes as reinvindicações na rede, como pode fazê-la tornar-se um algoz, ou seja, atrapalhando mais do que ajudando e, assim, os ciberativistas deveriam repensar a forma como se mobilizam, e de fato, tentar mobilizar-se.

Internet 2.0: a pauta é livre, o engajamento idem

Manifestações políticas que ganham as ruas não são novidade no Brasil. Nas décadas de 60 e 70, auge da ditadura militar no país, protestos ganhavam as ruas com milhares de pessoas. A golpe militar, aliás, foi avalizado por uma manifestação popular de grandes proporções: a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, em 19 de março de 1964, foi estopim para que militares tomassem o poder sob o pretexto dos clamores da população contra a “ameça comunista”, difundida pelos meios de comunicação hegemônicos da época, incitando os cidadãos ao levante que garantiria aos militares o controle político do Brasil entre 1964 à 1985. MARCHA Durante todo o regime militar, militâncias se organizavam contra a ditadura, muitas delas originadas no meio estudantil, apesar de intensa repressão e da precariedade dos meios de comunicação. A redemocratização do país também foi impulsionada por manifestantes nas ruas, numa articulação entre políticos a favor da democracia, intelectuais e, porque não dizer, a cobertura majoritariamente favorável da mídia tradicional ao movimento das “Diretas Já”, contribuindo a levar multidões a comícios e protestos pelas eleições diretas no país. Diretas_Já Com a democracia, diversos movimentos de ordem social e política proliferaram, como: Movimento dos Sem Terra, movimentos sindicais, operários. Então, diante do histórico de grandes manifestações no país, o que os eventos de junho de 2013 no Brasil trouxeram de novo? Se antes da internet e sem a liberdade de hoje, protestos e reivindicações já levavam milhares às ruas? Talvez a resposta esteja na estrutura da internet: rede. Quantos posts com teor político passaram por suas redes hoje? Já assinou alguma petição on-line passada por amigos através do Facebook ou Twitter? A impressão que temos é de que internet e política se tornou um binômio indissociável, pelo menos nos últimos 2 anos. Engajados de todas as partes, de todas as causas, nos propõem adesão e ativismo. Se há quem considere política nas redes como mero “ativismo de sofá”, em junho de 2013 a ida de multidões às ruas convergindo com o que propuseram alguns estudantes insatisfeitos com o aumento das passagens mostrou que engajamento ou acomodação política não dependem da internet, mas hoje passam quase que obrigatoriamente por quem está conectado às redes. Nada mal para uma ferramenta que surgiu em plena Guerra Fria com a função de descentralizar informações para preservá-las através do compartilhamento entre sistemas integrados. A onda política na rede 2.0, por esse prisma, seria apenas um retorno à funcionalidade prevista da internet. Porém, com a possibilidade de incalculáveis protagonistas.

Hackear(te)!

Existem muitos projetos de arte e tecnologia, interligados com a arte contemporânea, marcados pelo uso e desenvolvimento hacker de dispositivos, interfaces, sistemas, redes, programas e processos.

Os hackers, por explorarem os sistemas e as formas de expansão das suas capacidades, tornam-se opostos aos demais usuários que necessitam do mínimo aprendizado para executar tarefas, e dos cientistas, que teorizam antes de iniciar qualquer programação. Eles escapam da rigidez de fórmulas predeterminadas, tornando-se coautores, em lugar de autores exclusivos dos programas. Sendo assim, a arte torna-se cada vez mais livre e reprogramável, pois tem o caráter de recombinação por estas explorações de possibilidades em contra partida do que se está sempre posto e previamente estabelecido.

O músico Larry Polansky da Faculdade de Dartmouth afirma que “Tecnologia e arte estão intimamente relacionados. Muitos músicos, artistas de vídeo, artistas gráficos, e até poetas que trabalham com tecnologia sabem—projeta-la ou usa-la— se consideram parte da ‘comunidade hacker.’ Artistas de computador, como hackers não artista, muitas vezes se encontram nas margens da sociedade, desenvolvendo estranhos usos, inovadores das tecnologias existentes.”

Alguns artistas hackers criam arte escrevendo código de computador, e outros, através do desenvolvimento de hardware. Alguns criam com ferramentas de software existentes, tais como Adobe Photoshop ou GIMP.

O hacker e artista, Jay Salvat, recriou a Mona Lisa utilizando CSS com mais de 7,5 mil linhas de código, ele usou milhares de sombras que foram montando uma espécie de mosaico, que resultaram em uma versão bastante competente da pintura.

Outro exemplo é o do artista hacker David Huerta que criou uma mixtape criptografada, com uma “trilha sonora para o Estado de vigilância” e enviou para o NSA que, por sua vezz, não conseguirá ouvir a tal mixtape, já que ela foi encriptografada com um algoritmo baseado em chaves. Mais detalhes aqui.

Em suma, “a experiência social e os sistemas de produção estão cada vez mais interconectados e dependentes das tecnologias digitais. A arte mergulha nessa conjuntura mundial, e sua criação e difusão passam a ser sustentadas ou influenciadas pela escrita mutante e interativa do código algorítmico. De modo mais amplo, o caráter processual e colaborativo da programação tecnológica dá impulso a uma estética de caráter relacional, que adota as relações humanas, o convívio e os contextos comunitários como interstício para a ocorrência de encontros e desvios geradores da forma” como explica Daniel Hora, mestrando do Programa de Pós-Graduação em arte da Universidade de Brasilia, em seu texto “Práticas e ideologias do “hackeamento” nas artes visuais”.

Hacktivismo e Ciberativismo

Hackers são pessoas com conhecimentos técnicos em informática que buscam a todo momento desenvolver novas maneiras de processamento de informação e comunicação eletrônica. Eles são programadores de computador que solucionam problemas através de métodos não convencionais e suas atividades, normalmente, não são autorizadas. Para Steven Levy, no livro “Hackers: Heroes of the Computer Revolution”, mais do que transgressores de sistemas, os hackers promovem, em sua maioria, a disseminação de conhecimento e a livre circulação de informação. Ao fazerem novas descobertas eles compartilham o conhecimento adquirido na rede, portanto a função dessa cultura na construção da internet é essencial, sendo que, através do compartilhamento de suas descobertas e comunicação livre, fomentam a inovação tecnológica.

A termo “Hacktivismo” é utilizado para associar ativismo politico e desobediência civil a atividades de hacking. Devido as crescentes ocorrências ativistas na internet, impulsionadas e paralelas ao avanço tecnológico dos processos comunicativos da rede, fez-se necessário entende-lo como uma das tipologias do ciberativismo.

Apesar de possuírem finalidades e motivações em comum, a forma de agir afim de alcançar seus objetivos é distinta, enquanto o Ciberativismo atua dentro da lei o Hacktivismo utiliza técnicas de transgressão. Ambos são fenômenos sociais complexos que ganham várias formas e se expandem em conjunto com a internet.

 

Somos todos ciborgues!

“Eu gostaria de dizer a todos que vocês são, na verdade, todos ciborgues, mas não os ciborgues que vocês imaginam. Vocês não são o Robocop ou exterminador do Futuro, mas vocês são ciborgues toda vez que olham um computador ou usam os dispositivos do seu celular”.

Quem diz isso é a antropóloga americana Amber Case, que estuda as nossas formas de interação com a tecnologia.  Segundo Case, isso ocorre porque passamos a utilizar de componentes externos para nos adaptarmos melhor aos ambientes. Usamos, por milhares de anos, e ainda hoje, ferramentas para modificar e amplificar o nosso próprio eu e de repente tudo isso se mistura.

Donna Haraway, no seu “Manifesto Ciborgue – Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX”, define ciborgue como “um organismo cibernético, um híbrido de máquina e organismo, uma criatura de realidade social e também uma criatura de ficção”.

Toda essa transformação ocorre dentro do ciberespaço, onde se cria novas formas de convivência, e mudanças nas dinâmicas sociais. Esse lugar descentralizado redimensionou as formas de organização dos movimentos sociais, ampliou os espaços de luta e deu margem ao surgimento de novas formas de ativismo. Foi assim com o movimento de mulheres, em todo o mundo.

“Uma aliança entre as mulheres, a maquinaria e as novas tecnologias”, é como Sadie Plant define o ciberfeminismo. O ciberespaço surge como um território político, onde os discursos tornam-se públicos e são ouvidos, onde se constrói redes de comunicação entre mulheres, na luta pelo fortalecimento do movimento feminista.

A rede de computadores se torna um epicentro de mudanças. Espaço para discussões sobre as relações de gênero, troca de experiências, busca pela simetria de poder.

Haraway afirma que o seu mito do ciborgue justamente “significa fronteiras transgredidas, potentes fusões e perigosas possibilidades – elementos que as pessoas progressistas podem explorar como um dos componentes de um necessário trabalho político”.